DEPOIMENTO:
Durante
minha trajetória como professora por vinte e três anos, trabalhando com
crianças de cinco a doze anos, sempre considerei fundamental a leitura para o desenvolvimento
total da criança; assim sendo, procuro estimular o gosto pela leitura e
desenvolver esse hábito desde cedo.
Pela observação do comportamento leitor de
muitas crianças em salas de aula, bibliotecas e ambientes familiares, constatei
que refletem o modelo dos adultos com os quais convivem. Por entrevistas
informais constatei que as crianças são atraídas, num primeiro momento, pelo projeto gráfico dos livros. Esses fatores
levaram a escolha do tema a ser estudado.
Costumo
oferecer a meus alunos diversos livros, de gêneros variados, em bibliotecas
volantes, que são caixas disponíveis em sala de aula o tempo todo. As crianças
podem ler ao terminarem suas atividades, no recreio ou durante algum momento
livre e podem levar para casa. A seleção do que irão ler é feita por eles
mesmos e não há atividades pedagógicas relacionadas a esses livros. Nas escolas
onde há biblioteca, os próprios alunos também fazem a seleção pessoal.
Ao
observar as escolhas feitas fui percebendo que alguns livros nunca eram
selecionados. Comecei a questionar as crianças o motivo disso e obtive
respostas como: “Esse livro é chato.” “Esse livro não tem graça”. “Esse livro é
feio.” Entre outras, mesmo sem terem noção do conteúdo.
Baseada
no dito popular “Não devemos julgar um livro pela capa”, escolho esses livros
desprezados pelas crianças para ler para elas. Percebo a surpresa ao final da
leitura quando gostam da história e passam a seleciona-los posteriormente;
porém apenas aqueles que li; os que não leio continuam sendo desprezados.
Assim
comecei a questionar minhas atitudes. Qual a necessidade de ler os livros pouco
atrativos se as crianças continuam escolhendo o livro pela capa? Passei a
perguntar a adultos leitores sobre como faziam suas escolhas de livros, já que
o que me atrai num primeiro momento, o que me leva a pegar um deles numa livraria,
por exemplo, se não sei nada sobre ele ou seu autor, é o design (capa, imagem,
cor e título) somente, então, leio a resenha, para a decisão final de ler ou
descartar tal título. Descobri vários adultos agindo dessa forma, que não se importam com ilustrações
internas; mas para a criança no início da alfabetização e antes disso, uma das
primeiras leituras do livro é a da imagem da capa, que funciona como um convite
ou um repelente do mesmo.
Claudia Luzia